2008-09-03



O desenho como instrumento de trabalho

O computador veio sem sombra de dúvida retirar a carga pesada das noites debruçadas no estirador, suadas as mãos, lavadas dezenas de vezes para não engordurar o papel. O “draftex”, ( se bem me lembro ser este o nome), já não estava ao dispor da carteira de todos. Então, de caneta em punho e lâmina pronta, passávamos do desenho impreciso, para o rigor da linha 0.13 e esta por sua vez, apenas para voltar ao desenho novamente e procura de melhor entendimento da proposta e qualificação da mesma.
No entanto, este fenómeno (o computador), retirou na minha opinião quer a visão global do desenho e da escala do trabalho, impedindo o afastamento do desenho como mera representação gráfica bidimensional, quer a capacidade do aluno em sistematicamente passar do rigor para o desenho novamente e corrigir assim aquilo que só o tempo e uma leitura mais atenta e demorada da proposta pode afinar e trazer ao produto final a qualidade que se espera do projecto e consequentemente da obra.
Claro que se reduzirmos á mera substituição das antigas canetas, impera a impressão, o desenho sobre esta, o redesenho e novamente a equação resolvida com fim a aprimorar o produto final, então este método (Computador) é sim uma mais-valia para o arquitecto. O problema é que isto não acontece!
Muito rapidamente se passa ao rigor de uma janela informática, sem o prévio desenho… (E aqui ressalvo a minha certeza de que esta pratica e fundamental exigência para o arquitecto deixou de ser valorizada por parte de quem ensina)… e depois de tomada a decisão e a dimensão do que nos parecia ser a melhor proporção, custa voltar ao passo do desenho que nunca dominamos.
Esse é o problema do aluno actual de arquitectura. Histórias poderia aqui contar mas fugiria á conclusão do texto que se me adivinha no momento.
O desenho como instrumento de trabalho e representação quer bidimensional, quer tridimensional, torna-se pois num exercício demorado e sempre sem uma sequência definida, voltando ao inicio tantas vezes quantas entendamos necessárias para a devida conclusão do trabalho.
Um corte, de um alçado, para um pormenor noutra escala, de uma simples linha gráfica para a colocação de uma textura, de uma cor, de uma material e logo, a materialização desse pormenor, dessa ideia, desse material, de novo o desenho, a representação gráfica…
Este é o exercício único possível para um bom desempenho e método de trabalho do arquitecto.
Seja a paixão pelo desenho, seja pela simples paixão de querer de facto fazer arquitectura.
Já assim, este sendo o primeiro passo, depois dele, resta dissertar sobre o que será bom ou mau, bonito ou feio, bem resolvido ou mal resolvido… e passará a outro nível de discussão.

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