2008-09-19

Casa Santos Cruz


O programa
Uma implantação simples, um lote exíguo e definido.
Cumprindo a implantação, a proposta resume-se em três pisos de habitação sendo uma cave destinada a garagem e lavandaria.
No piso térreo, a área mais social e de serviços.
No piso superior, quatro quartos com os respectivos sanitários.
O conceito
Cumprindo o programa, logo se definiu a volumetria tendo como intenção abrir o mais possível o piso social ao pouco logradouro existente e fechar o piso superior, levando assim à escolha de dois materiais, sugerindo pelo valor cromático textura e expressão a colocação da madeira no piso superior, mais acolhedor, mais quente, como que se de um invólucro se tratasse. O alumínio no piso térreo com aberturas máximas e encerramento do vãos ao mesmo material, como que uma película se tratasse aberta para um espaço de jardim.

De um bloco rígido, a imagem de um caixote que encerra uma encomenda, tapada por uma manta de madeira em forma de estrado.
Um reguado aberto em cortina ventilada com um tratamento de envelhecimento e estabilização da madeira. Nas frentes a repetição desta imagem em régua mais aberta para maior transparência em portadas hidráulicas permitindo uma privacidade do interior e defesa à exposição solar.
O alumínio no piso térreo repete a ideia do reguado superior de madeira, numa película mais fria e mais ligada à água, aberta para um espaço de jardim exíguo. Um ou outro pano em material pétreo vai organizando o espaço interior deixando ler a totalidade do espaço de habitação não tocando por isso nos tectos contínuos e fustigados de pontos de iluminação que confundem a métrica das divisões. Os painéis de correr foram tema insistente, dada a versatilidade e amplitude visual que conferem ao espaço apesar de tudo reduzido. Um ou outro pormenor de madeira consequência de uma cada vez maior atenção à verdade e naturalidade do material, os malhetes, meio fio, esquadrias, juntas, ligações de materiais assumidas, de uma forma quase ingénua tem sido uma constante mas consciente atitude nas minhas obras.

Outros
Uma ou outra parede de mármore com estereotomia cuidada, contrasta com a leveza do alumínio.
O pormenor em soalho tradicional junta aberta, uma escada que lembra a ligação com os palheiros rústicos e um ou outro apontamento da casa de chá do Siza Vieira, paredes soltas em planos que se destacam, e painéis de vidro conferem à habitação um espaço leve, amplo, transparente e de simplicidade que se pretendia.

2008-09-16


As árvores na cidade

(Este artigo deve ser lido e consultado na integra, com o apoio das imagens ilustrativas do discurso para melhor compreensão e entendimento do mesmo) www.nunooliveira.com


Enganamo-nos quando pensamos nas áreas verdes em geral como consequência e mera decoração das nossas cidades ou espaços urbanizados. Muitas vezes até a pretexto de uma melhor qualificação vivencial dos espaços, mas num sentido redutor a uma imagem, a um embelezamento desse espaço sem a noção da importância e influencia destes, no comportamento térmico entre outros e por isso comportamental e de uso dos espaços por parte do individuo.


Uma árvore, uma caldeira, uma área de relvado com um ou outro canteiro de vegetação rasa, um godo ou casca de árvore, um desenho mais elaborado de passeio, ou sendo ainda mais exigente, colocando ali um ou outro equipamento urbano; um banco de jardim; uma papeleira; um candeeiro. Para ser ainda mais rebuscado, uma fonte ou escultura.
Desenhar o espaço verde obedece às mesmas regras de conceito, composição, resposta a um programa, ou mesmo a um desenho meticulosamente pensado e construído bem como empiricamente sensitivo pois, numa análise mas profunda, esperamos que estes espaços nos tragam algo mais do que o espaço meramente construído em si. Algo como tranquilidade, uma ausência de barulho, uma distância dos nossos apressados passos no meio de reuniões onde, sentados num banco jardim, quando raramente arranjamos tempo para isso, sentimos o perfume de uma árvore em flor ou de uma das flores que ali dão o colorido que nunca reparamos. O barulho das ondas rebentando e arrastando aquela brisa de iodo, ou o correr de uma levada ecoando entre as árvores.
Nessa altura, sentimos que outros sentidos se ligam e se encontram afinal apurados. Sentimos o cheiro da terra molhada!..
È só nestas alturas e apenas por momentos que damos valor ao espaço verde, seja ele desenhado ou natural na sua verdadeira essência.
Não é no entanto um discurso dos verdes ou nesta onda ridícula da preservação da natureza ou mesmo da preocupação sobre o equilíbrio do planeta. Esse assunto terá certamente um outro momento. Aqui deverá ser objecto a reflexão sobre a árvore, o espaço verde como elemento integrado no nosso espaço urbano.
A verdade é que este espaço verde (o natural e o desenhado), sempre fez parte da nossa vivência desde a pequena aldeia até às nossas cidades.
Poderia até dissertar sobre a importância de um sobreiro no meio da praça, que outrora marcou uma expressão alentejana ouvida no centro de Évora:
-Ali no sobreiro vira á esquerda!
Dizia o velho de capote onde as referências do sítio ainda se regiam pela importância de uma árvore, de um monte, de um caminho ou da pequena capela.
Sejamos por momentos, interrompendo este devaneio poético, pragmáticos e aplicadores práticos das regras em que nós (os arquitectos) nos regíamos até á década de 80.
Uma rua de traçado recto, orientada de nascente a Poente. Um perfil de 15 metros entre fachadas e estas, de ocupação burgueso-mercantil, piso térreo e um ou dois pisos superiores de habitação. No piso térreo, “a loja”.
Este é um cenário fácil de encontrar em qualquer restaurante típico em qualquer cidade ou aldeia. Ao lado, sinónimo de evolução dos tempos, a velha foto a preto e branco que vale o que vale, torna-se um quadro nostálgico face á nova vista do mesmo espaço. Agora com carros e passeios, e gentes e lojas, e luz de projectores de iodeto e halogéneo e outras mais diferentes das velas ou velhos candeeiros a óleo, cor das fachadas e cor das montras, das pessoas cinzentas que deram lugar a pessoas de cores variadas. O céu já é azul e o negro do asfalto contraposto com a calçada irregular em granito velho e cinzento acastanhado, tornam os opostos mais contrários ainda.
Bom! É com estas imagens que podemos compreender melhor a evolução dos espaços.
Poderíamos falar aqui da cor, da proporção entre a largura de rua e a altura das fachadas. Poderíamos falar da presença actual dos carros já estacionados e com espaço específico para tal, em contraposição com o pontual calhambeque do senhor do chapéu. Podíamos até referir estatísticas e teses sobre o que estes perfis trouxeram á vivência destas cidades.
Mas agora que chegamos a esta descrição imaginada e apoiada em imagens e fotos que todos conhecemos, veja-se:
A rua é a mesma, as fachadas deram lugar a mais dois ou três ou dez pisos. Dos passeios, agora reduzidos a 1m de largura, sendo que o outro está ocupado com candeeiros, caldeiras de árvores e todo o tipo de mobiliário.
A rua em si, para um ou outro carro puxados a cavalos, deu lugar a duas filas compactas de carros. Uma parada o dia todo, outra em fila continua de transito que impede ela mesma a circulação de quem por lá passa.
E as árvores? Onde ficam elas?
Uma ou outra marcava uma referência e orientava o percurso. Hoje vivemos o dilema de que estas, ou crescendo a copa ofusca e retira a vista às salas dos “T2” que se repetem, ou não permitem a criação de mais uma via de rodagem, pois ocupam um lugar central e criam barreiras de ligação quer visual quer mesmo física dos transeuntes.
O perfil das ruas é a meu ver e sem sombra de dúvida, não só o que melhor caracteriza a evolução, (negativa ou positiva) de um espaço urbano, mas também o melhor exemplo que temos para compreender o sentido e fenómeno comportamental influenciado pela presença destas árvores citadinas.

Ventos dominantes
Como podemos compreender, nesta rua orientada a Nascente Poente, agora com 6 pisos em contraste com os três de origem, temos uma barreira sobre os ventos dominantes de Noroeste Nordeste, o que significa duas coisas:
A não existência de brisa ou aragem no Verão, tornando a rua quente, pouco arejada e insuportável nesta altura.
No inverno, com a existência de ventos variados a Oeste e/ou Este, por convexão e pressão atmosférica, uma brisa fria, conferindo uma corrente descendente e consequente desagradável estar para quem lá passa.

Exposição solar
Como sabemos, ainda que pouco importe á nova geração destes arquitectos, ocupados em formalismos e concepção plástica dos seus projectos, o sol anda mais baixo no inverno e picado no verão (desculpem-me os mais sabedores e teóricos esta linguagem, mas a mesma dirige-se a um nível estudantil e por isso incapaz de terminologias demasiado técnicas). Assim, uma fachada sul de uma rua que tivera três pisos e se encontra agora com 6 ou 7 pisos, provoca uma insularidade que agrava mais a situação: no verão não há sombra e no inverno, nenhum passeio apanha um raio de sol.
Para agravar o facto, temos ainda a inexistência de arcadas e espaços abrigados já fazendo esta parte da arquitectura em si dos prédios, mas centremo-nos nos espaços verdes.
Relação ao nivela do r/ch, entre o uso dominante e o passeio
A relação entre a ocupação funcional ao nível de r/ch seja comércio, habitação ou serviços, sempre marcou e identificou, quer a identidade da rua, quer pontualmente a aproximação de um gaveto, de uma alargamento ou de uma praça.
Uma rua adquire uma identidade, por vários motivos, mas fundamentalmente pela ocupação ao nível do r/ch, largura de passeio, caldeiras para arborização, largura de rua, número de vias de rodagem, separador central e até sentido de trânsito.
Assim, a qualificação, desenho e identidade destes espaços depende da forma como se acentua, condiciona e provoca ao nível do projecto o uso do mesmo espaço.
Outros factores
Note-se que pretendo concluir apenas referindo-me ao espaço arborizado, tendo consciência do discurso muito balizado e não entrando na equação dezenas de outros factores como ocupação tipológica, relação desta rua com a malha urbana envolvente, proximidade com o centro entre outros.
Concluído:

Pois deste espaço imaginado sem a preocupação ou introdução dos elementos arbóreos, leia-se agora o mesmo espaço introduzindo conscientemente árvores altas, baixas, copa larga ou copa curta, folha caduca ou perene, para não falar de uma escolha mais pretensiosa de cores, e expressão deste elemento verdes introduzidos.
Uma árvore pode conferir a sombra inexistente que falamos no passeio ou na rua, marcar uma sequência e ritmo á rua por grupos e conjunto d elementos, desenhando assim percursos e aberturas para passeios e passadeiras. Pode servir de barreira visual entre fachadas, pode quebrar a brisa fresca de inverno ou tornar mais agradável um passeio de verão. Pode sugerir uma praça, uma pausa, uma referência do sítio para dar lugar a uma explanada de café. Pode pela consequência do desenho e das barreira físicas das suas caldeiras, dividir estacionamentos, ou marcar identidades no percurso do passeio. Com o apoio, reforço e valorização de algo inevitável hoje que é a iluminação, criar espaços de cor, de referências várias a uma local específico ou a uma sequência específica de uma rua.
Pode integrar, pela sua existência e condicionante física, um outro equipamento, agora sim coerente e contextualizado um banco de jardim, uma papeleira, um contentor de lixo. Sobre este último exemplo, veja-se a melhor integração de um simples contentor de lixo.
E se levarmos esta potencialidade ao máximo, veja-se mesmo a criação de identidades ao longo da rua e dos prédios, e das lojas, e das funções que ocupam os pisos térreos com a diferenciação dos elementos verdes aí colocados.
Se compreendermos o que estes elementos conferem á identidade de uma rua, podemos até entender que os cheiros, o som quer das suas folhas quer dos pássaros que as habitam, tornam o espaço desenhado em algo tão sensível e importante de reflexão para que o espaço urbano, seja não só pensado por si, mas desenhado também em função dos elementos verdes que aí colocamos pois este sem dúvida vão influir no comportamento dos seus utentes.




2008-09-11


A pedido de um aluno, aqui vai:


Deveria no entanto inlcuir as fotos que são algumas dezenas para melhor compreensão...cada paragrafo corresponde a uma ou varias fotos...

Enviarei com todo o gosto por mail em pdf, no entanto esta é uma memória para a camara municipal, não necessariamente o que se pretende para exposição, justificação e descrição de um priojecto académico....


Memória descritiva

V.N. de Famalicão, 25 de Junho de 2007

Pretende o requerente, Francisco José Alves Miranda, residente na Rua Pascoal Fernandes, nº 11 – 4º drtº, Lamaçães, concelho de Braga, proceder ao licenciamento de uma habitação uni familiar, a construir no Lugar de Santa Marta, freguesia de Lago, concelho de Amares.

O terreno no lugar supracitado, tem a área total de 2, 6548 hectares, está inscrito sob o artigo matricial nº 29, (omisso na antiga matriz) como atestam os documentos em anexo.

O terreno situa-se numa encosta e vale orientado a nascente e sul, onde predomina a paisagem rasa e verde desde exploração vinícola e arborização natural;
A Nascente um pavilhão presumivelmente industrial, destaca-se numa paisagem verde de actividades várias.
A Sul, a presença do rio que banha os seus pés só separado por uma caminho subtil de servidão. Com a presença do rio destaca-se a encosta e marginal a sul, vista privilegiada da propriedade.
A Poente, uma mancha arborizada cortando a visão sobre o rio e um caminho ainda apertado de carácter rural.
A Norte um pequeno aglomerado pontuado por uma pequena capela.

A envolvente

Numa área predominantemente rural e agrícola, podemos encontrar a Norte algumas habitações isoladas em lotes de pequenas dimensões formando um pequeno aglomerado, uma pequena capela, caminhos de acesso sem grande perfil, e uma ou outra unidade fabril ao longe, sendo esta paisagem rematada com o rio cávado a sul. Nas proximidades menos imediatas, alguns loteamentos de unidades habitacionais geminadas, serviços dispersos e um ou outro comércio.
Enquadramento da pretensão no P.D.M.,
Integração urbana e paisagística


O terreno onde se pretende intervir está inserido em área classificada no PDM em três zonas distintas, sendo a primeira; A) Zona urbana Complementar, alínea C do nº 1 do artigo 48 com um coeficiente de ocupação de 0.8m3/m2; B) Zona Agro-florestal complementar, artigo do Reg do PDM e ainda, C) numa área de Reserva agrícola.

De referir que a primeira se encontra a Noroeste, o que vem de encontro com a pretensão ao nível da construção, sendo que a proposta se apresenta implantada nesta área e a sua escala e dimensão de acordo com o regulamento citado.
Para atestar o citado apresentação a certidão comprovativa relativa à ocupação do terreno, face ao PDM.

O conceito

Depois de visitado o espaço, a procura de uma forma, de uma implantação, não surgiu senão baseando-se numa linha de talude encontrada onde pequenos volumes que se ligavam visualmente, como “jogo de legos” pousasse e servisse de linha condutora da intervenção.

Encontrando a melhor forma, relação e proporção entre os mesmos volumes, numa brincadeira de sólidos, a que corresponderiam os vários espaços constantes no programa, foram sendo sugeridas algumas soluções.

Sempre com base nesta relação de formas, o conceito partiu de uma série de espaços com identidade e directa relação formal e plástica, onde desenvolvendo-se ao longo desta linha do terreno pousavam os mesmos como que varandas sobre o terreno e as vinhas.

Procurando o sul, e ganhando na melhor privacidade possível, a habitação ganharia a forma final por esta ingénua forma de distribuir o programa ao logo de uma linha curva que acidentalmente aconteceu na folha de desenho.

Proposta
A organização e programa
“Casa Francisco Miranda”

Pensando na melhor exposição solar, o programa foi assim acontecendo ao longo desta linha de força, relegando a área mais privada para a parte norte com vista sobre Nascente e as vinhas e oferecendo a área mais pública a sul.

Como rótula desta divisão claramente marcada entre os espaço mais privados e sociais, encontramos a entrada de serviço que parte de um pátio de chegada.

Cada volume ficou assim marcado pela sua ocupação sendo quartos, cozinha e copa ou como ponto mais marcante, no grande volume ou varanda sobre o rio e paisagem a sala comum.
Este jogo de volumes articulado por uma linha de corredor, esconde pequenas áreas de saletas ou escritórios, bem como pequenos pátios de arejamento e ventilação natural.

Ainda um patamar mais elevado sugerindo pés direitos distintos oferece uma entrada para área social diária e familiar e para outra área social de visitas com acesso a um patamar superior exterior de jardim para melhor aproveitamento da pouca exposição solar de Inverno. Chamei-lhe assim o meu pátio de Inverno.
Uma área privada composta de quatro quartos, sendo uma suite principal e restantes também servidas por uma instalação sanitária de apoio.
Os espaços de serviços como lavandaria quarto de tratamento de roupa, arrumos e acesso à garagem, bem como alpendre, articulam este piso de cave e secundário, sendo que o acesso se descreve por uma escada central e de fácil distribuição para a zona de cozinha ou zona privada do piso superior.

Aqui no corte percebemos a relação entre os dois pisos sendo um de habitação composto pelos espaços privados e sociais e num piso de cave os espaços de serviço e apoio á propriedade sendo a caixa de escadas o elemento que os interliga e serve funcionalmente.

A área social

A área social composta por salas, cozinha e escritório

Pouco resta descrever sobra este jogo de volumes que é acompanhado por um jogo de espaços, tentando brincar com as vistas sobre o rio que espreita no horizonte, as vinhas que oferecem e descrever das estações do ano em cores e texturas, ou no sentido oposto uma varanda superior (sala de visitas), onde acompanhando a curva que deu força à ideia, procura a ultima exposição solar que espreita sobre a massa arbóreo a Poente.

A área privada

O jogo de volumes proporcionado pelos compartimentos privados e espaços de ligação

Repetindo o conceito, um jogo de volumes vai definindo os vários compartimentos, sendo estes os cómodos privados. Numa suite composta por uma área de entrada, uma instalação sanitária, uma área de vestíbulo e um pequeno escritório, encerram um espaço que se pretende de identidade e uso próprio. O mesmo raciocínio, para mais três cómodos de dimensões mais reduzidas e organizados ao longo da referida linha de força curva, brincando num desalinhamento e jogo volumétrico, pretendem conferir ao conjunto uma dinâmica peculiar.

O alçado a Norte, com o jogo de volumes correspondente aos compartimentos

Os acessos

A implantação e os arranjos e percursos de chegada á habitação

Começando pelo fim, a chegada a ao conjunto edificado, depois de vislumbrado a uma cota superior com as vinhas e o rio ao fundo, dominado o conjunto, atravessa um percurso que obriga à descoberta dos volumes ligados e organizados ao longo desta linha curva chegando a um pátio de entrada a uma cota superior e um segundo acesso à garagem a uma cota inferior.

O alçado de chegada á habitação, linha curva que organiza o espaço e os volumes que vão sendo sugeridos neste muro curvo

A descoberta deste grande muro que se vai desenhando na chegada, vem reforçar e contrariar este diálogo entre um alçado a norte, fechado, frio, ainda impessoal e uma fachada a sul, com luz, transparência e vida, privado da família que ocupa o espaço.
Este muro desenha os próprios acessos e conduz ao pátio de chegada ou à garagem e alpendre a uma cota inferior.
Os arranjos exteriores

Certamente serão estes espaços cuidados com planos posteriores mas será no contraste entre uma actividade vinícola e agrícola e um patamar ajardinado superior à habitação, acessos e outros arranjos mais cuidados que darão a identidade final à habitação.
Para isso está previsto um redesenho dos caminhos internos da propriedade e dos pavimentos a efectuar para os mesmos, em jogos de esteios, guias, soleiras, de ferro ou material pétreo, em traços de saibro, terras batidas ou lajedos e calçadas tradicionais, sobre linhas de ramada existentes.

A lógica e plasticidade dos materiais

Os materiais surgem aqui numa resposta o conceito já previamente marcado. Num jogo de volumes e formas, de espaços e gestos, de circulações e áreas de estar… “o ferro, a chapa, o alumínio e a pedra”, contrastam com a leveza do vidro, e dos estores laminados que permitem uma boa protecção à exposição solar.

Como que volumes vazados para lhe ocupar o interior, este jogo de materiais, vem reforçar a ideia de contrastes entre Norte e Sul, entre espaços posteriores e anteriores…
Uma ou outra cor, pretende dar vida a um interior que se pretende calmo e isento, quase inexistente.
Aspectos construtivos
Aqui podemos referir a construção típica porticada, em estrutura de betão e ferro, sendo a mesma estudada posteriormente.
Preconizando uma estrutura vertical e horizontal porticada de ferro, placas aligeiradas e de betão, contrastam com a ligeireza dos revestimentos em cortina ventilada, ora em material pétreo, ora em chapas várias de ferro e alumínio, após encerramentos em paramentos verticais de tijolo vazado.
Para garantir uma qualificação do espaço vivencial, será usado um isolamento térmico e devida impermeabilização em poliuretano projectado ou poliestireno, conforme se trate de paredes ou coberturas.

Poderá ser usa do o “sistema capoto” para acabamento final nos paramentos e monomassas regularizadas, tipo “graniplás” nas restantes paredes.
Na cobertura e após estrutura, será estudado o melhor pormenor para isolamento e impermeabilização sendo o acabamento contínuo a godo ou seixo rolado.
As aberturas em caixilharia de alumínio escovado ou acetinado encerram os panos de vidro duplo nas aberturas a sul.
Os pavimentos e revestimento interiores descritos em mapa de acabamentos anexo, variam entre a madeira, o gesso para pintura e aplicação à base de epox.
Uma vez mais, uma ou outra referência a material pétreo ou outro, poderá marcar a diferença das áreas que compõem os diferentes espaços.
Funcionamento das redes e infra-estruturas

Ainda será a unidade habitacional dotada de sistemas de aquecimento por piso radiante e radiadores murais, com combustão em sistema paralelo, a gás ou combustível, com o auxílio de aproveitamento de energia solar.
Servido por poço ou rede publica, e respectivo escoamento que os projectos espaciais posteriores preconizem e melhor adequados ás infra-estruturas existentes.
Os Arquitectos
Frederico Ferreira
Helena Carvalho
Nuno Oliveira

Fotos da Maqueta

2008-09-10

Um exercicio de design

Numa primeira instancia, uma obra é o que se visualiza, o que se percepciona e o que se depreende de uma leitura meramente sensitiva e individual ou quase sempre subjectiva. Claro está a excepção que é ver uma obra sobre a qual já ouvimos, já falamos ou já vimos em imagens prévias. Uma obra de autor estudada torna esse impacto dessa leitura e primeiro contacto visual enfraquecido perdendo o efeito surpresa.
Por outro lado vivemos numa época e cultura onde a imagem importa mais do que a resposta e uma serie de condicionantes que resultam, essas todas e mais algumas num objecto e produto final.
No entanto, uma obra, uma imagem deve ser sempre, na arquitectura , ser compreendida segundo essa enorme quantidade de regras impostas, de programas, de condicionantes a vários níveis que fazem parte do primeiro gesto, do primeiro esquisso.
Uma velha porta, que hoje é lida como o ponto de partida, como a entrada no mundo imaginário deste projecto e espaço, na realidade foi consequência e resultado quase final. Diria mesmo, que foi a última gota, a ultima decisão,a ultima tomada (e muito correcta) de posição, curiosamente oferecida pelo dono e promotor e não um acto criativo do autor do projecto.
Com orgulho ostento esta entrada de um espaço "arquitectónico-estilístico", pois serve de cara de uma das ultimas intervenções e é testemunho de que muitas, senão todas as vezes que laboramos, o cliente, é parte integrante e fundamental para um bom exercício de arquitectura.
Memoria, apresentação e exposição do trabalho em desenvolvimento.
Veja-se projecto no sitio nunooliveira@noliveira.

2008-09-03



O desenho como instrumento de trabalho

O computador veio sem sombra de dúvida retirar a carga pesada das noites debruçadas no estirador, suadas as mãos, lavadas dezenas de vezes para não engordurar o papel. O “draftex”, ( se bem me lembro ser este o nome), já não estava ao dispor da carteira de todos. Então, de caneta em punho e lâmina pronta, passávamos do desenho impreciso, para o rigor da linha 0.13 e esta por sua vez, apenas para voltar ao desenho novamente e procura de melhor entendimento da proposta e qualificação da mesma.
No entanto, este fenómeno (o computador), retirou na minha opinião quer a visão global do desenho e da escala do trabalho, impedindo o afastamento do desenho como mera representação gráfica bidimensional, quer a capacidade do aluno em sistematicamente passar do rigor para o desenho novamente e corrigir assim aquilo que só o tempo e uma leitura mais atenta e demorada da proposta pode afinar e trazer ao produto final a qualidade que se espera do projecto e consequentemente da obra.
Claro que se reduzirmos á mera substituição das antigas canetas, impera a impressão, o desenho sobre esta, o redesenho e novamente a equação resolvida com fim a aprimorar o produto final, então este método (Computador) é sim uma mais-valia para o arquitecto. O problema é que isto não acontece!
Muito rapidamente se passa ao rigor de uma janela informática, sem o prévio desenho… (E aqui ressalvo a minha certeza de que esta pratica e fundamental exigência para o arquitecto deixou de ser valorizada por parte de quem ensina)… e depois de tomada a decisão e a dimensão do que nos parecia ser a melhor proporção, custa voltar ao passo do desenho que nunca dominamos.
Esse é o problema do aluno actual de arquitectura. Histórias poderia aqui contar mas fugiria á conclusão do texto que se me adivinha no momento.
O desenho como instrumento de trabalho e representação quer bidimensional, quer tridimensional, torna-se pois num exercício demorado e sempre sem uma sequência definida, voltando ao inicio tantas vezes quantas entendamos necessárias para a devida conclusão do trabalho.
Um corte, de um alçado, para um pormenor noutra escala, de uma simples linha gráfica para a colocação de uma textura, de uma cor, de uma material e logo, a materialização desse pormenor, dessa ideia, desse material, de novo o desenho, a representação gráfica…
Este é o exercício único possível para um bom desempenho e método de trabalho do arquitecto.
Seja a paixão pelo desenho, seja pela simples paixão de querer de facto fazer arquitectura.
Já assim, este sendo o primeiro passo, depois dele, resta dissertar sobre o que será bom ou mau, bonito ou feio, bem resolvido ou mal resolvido… e passará a outro nível de discussão.

O desenho, a ideia

Depois da insistência por parte dos meus colaboradores em começar a apresentar algo, decidi abrir uma foto e começar sem critérios a escrever sobre estes temas.

Assim temos:

Um loteamento, não é mais do que um estudo onde, num primeiro passo devemos apenas colocar casas/unidades como se de um programa interno de uma só habitação se tratasse.

Sem pensar na sala e relação desta com a área privada da casa. O discurso e forma de começar deverão ser a relação dos espaços que estão aí consagrados. Uma rua, um número de lotes, um jardim e uma cedência. O sol, o terreno e a envolvente.
E já temos os ingredientes mais do que suficientes para nos fazer pensar e desenhar o espaço.
Como, onde, de que forma, qual a implantação mais correcta de acordo com a frente do terreno, orientação do sol, volumetria, programa…
Assim nasce um pequeno desenho!
Supostamente errado á nascença porque sem limites exactos, sem definição de outras premissas que vem a aparecer.
Casas de um piso ou de dois? Para quantos quartos?
Como vemos, o discurso é um tanto complexo ou simples quanto podermos querer e levar o trabalho.
Um loteamento é não mais do que um espaço comum a um grupo de pessoas com uma determinada identidade ou varias até.
O desenho deste é nada mais do que o resultado de uma ideia que já foi testada algures por nós ou por outros. Por isso é sempre bom conhecer algo para não partirmos da premissa inicial redutora que é: como começo?!!
Escritos A 12, Ofir