2009-12-21

Natal de arquitectos

Uma árvore de Natal
È nesta época natalícia que se reflecte mais, sobre tudo que nos rodeia.

Ou pelo presente que queremos comprar, o bolo rei que ainda não chegou..
Ou… ficamo-nos pelas coisas mais essenciais, tentando desesperadamente entender, não o que é, mas ao que chegou o Tal pai natal, e tudo que envolve esta época.
Num site sobre arquitectura, para além do trivial desejo de bom natal, dou por mim, de copo de james martin´s na mão e um mediano charuto qualquer oferecido, a olhar para uma árvore. Sim, dessas de plástico como de plástico aliás se tornou a nossa sociedade e os nossos valores.
E depressa, talvez com o aroma a casco velho na garganta e ligeiro trago de tabaco cubano a relembrar essa viagem, tiro a essência do que vejo.
Uma arvore…
Símbolo da polémica camuflada sobre essa coisa muito em voga que é o preservar do meio ambiente, a poluição, os males inevitáveis da nossa sociedade que é um consumismo exacerbado, sem respeito pela árvore.
Mas por trás da polémica, uma simples árvore!!...
Como na arquitectura, tem raiz, tronco e folhagem, base fuste e capitel, principio meio e fim Ao contrario, a face visível da copa com todo o seu esplendor, a sua coluna vertebral, que segura, que organiza, que sustenta, de onde tudo se ramifica,
E as bases do seu ser, onde recebe os seus princípios, as suas fontes, a sua alimentação. Independentemente da cor das folhas, da sua cara, da sua ramagem mais forte ou fraca, mais baixa ou a atingir o céu, bebe do solo toda a sua força.
A raiz, seja ela forte e visível, aparente, capaz de deslocar passeios ou caixas de saneamento, romper tubos, ramificar ou em bolbo, como que em saca egocêntrica, reservar toda a sua força sem misturas com a terra suja e um qualquer animal rastejante …
Bem…
Poderia continuar, se não fosse a urgência em estabelecer um paralelismo com a própria arquitectura.
Como Principio, todos já sabemos… base, fuste e capitel, fundação estrutura e revestimentos, sapata, pilar e viga…
Mas no seu princípio, a mesma trilogia:
De onde, qual o percurso e qual o objectivo.
As bases, a sua origem. O percurso e suas inúmeras condicionantes - o tronco que encerra em si todos os anéis em que cada um representa uma condicionante. O tempo a identidade, a tradição, as influências e incongruências e outras tantas. Por fim, a finalidade. Para além de florescer e semear de novo, como que o ventre de uma família de onde se multiplicará o ser e por consequência crescerá também outra casa, outra semente. Mas ao mesmo tempo, cumpre a sua finalidade, a copa, a sombra, o abrigo de um qualquer leão, cobra ou elefante, serve a sua seiva, o seu ramos e a sua folha, cada um para seu destino e função como que cada espaço que a unidade construída encerra. A função, o propósito, o destino, mais privado ou mais social, o pormenor ou a grande escala, como que por analogia a seiva e a casca ou copa respectivamente.
E assim se faz uma história filosófica de natal em tom de arquitectura.
Uma simples arvore que nos leva a três coisas:
1- Redefinir prioridades, entender e decompor num exercício meramente teórico e de ginástica mental, algo que desaparecera no desempenho do ser humano. Sermos capazes de deambular pelas palavras com um sentido, com um propósito e com isto fortalecermos o nosso papel activo na sociedade, passarmos a ter opinião e posição. Talvez um pinheiro lido por um arquitecto, seja o primeiro passo. Ou a leitura deste tão despropositada, tão inatingível que comprove a necessidade de nos elevarmos um pouco nas nossas leituras. Senão corremos o risco de sermos capazes apenas de ler as historias infantis que no incutem nas nossas novelas…
2- O analisar de partes do todo, fazendo paralelismos com uma vida habitada, (a nossa), criar referências, por comparação ou por oposição. Uma vez mais, um exercício que requer uma capacidade para entender e incluir neste raciocínio o nosso ser, o nosso propósito, o nosso viver quotidiano
3- Por fim, com esta reflexão, tirar as conclusões necessárias ao nosso desempenho enquanto seres humanos e neste caso concreto como arquitectos. Quem sabe sai de uma posterior e mais profunda reflexão um novo espaço na arquitectura. Não a sala, não o quarto, mas o postigo, o nicho ou a sala do pinheiro como símbolo e essência de todo o espaço que o envolve. Quem sabe até no dia em que só um restar, um autentico altar da humanidade, santo sepulcro para uma sociedade mais atenta e respeitadora. Alguém lhe dará nome! Um qualquer naturalismo freudiano
Assim é o meu pinheiro. Não de plástico, pois vou plantar no meu quintal. E vou olhar para ele e ver crescer o meu discurso, a minha arquitectura, o meu pensamento.
Estarei atento às raízes, procurarei ser o tronco de qualquer identidade, (já tenho filhos), e que eles olhem para a árvore da mesma forma que a vejo, pois os que me fizeram olhar para elas já se venderam. Veja-se os telejornais!
Por fim, aguardo que a copa me abrigue, que floresça, que desabroche, e que semeie alguma semente para dar inicio a outro ciclo.
Srs. Arquitectos, vamos olhar depois desta homilia de uma maneira diferente para as árvores de natal.

2009-01-15

Arquitectura popular ou não erudita - Ensino


A arquitectura popular e o ensino da arquitectura.

Todos nós (arquitectos), de alguma forma já passamos por fases de maior ansiedade por fazer arquitectura mais mediática e por outras onde sistematicamente, numa reflexão sobre metodologia projectual, ou porque não assumir, por uma simples crise existencial momentânea, equacionamos a forma de fazer, o propósito, e a linguagem, ate o que pretendemos atribuir e transpor para um projecto.
Estas diferentes maneiras de abordar um projecto, de começar um risco ou até de rever, ou reequacionar algo que infelizmente já está na câmara ou que o cliente já viu, é de facto o reflexo e quotidiano do nosso trabalho.
Esta dualidade entre a verdade, a procura da essência, da mais perfeita linha condutora do nosso exercício ou a vontade de criar algo que marque a diferença, que seja original, que nos eleve para algo que não seja um mero exercício de projecto e então possamos chamar de arquitectura o que fizemos, é o dilema do nosso exercício profissional.
Mas, relembrando o meu percurso escolar ou porque não assumir alguns anos de ensinamentos que me permitem alguma maturidade sobre o assunto, sempre esteve presente o exercício de levantamento e análise, critica e compreensão, de meros exemplos como os encontrados na arquitectura popular onde essa tal componente estética, formal ou chamemos-lhe mediática não está presente.
Hoje em exercício obrigatório de leitura dou por mim a ler ou reler livros que fizeram parte da minha formação enquanto arquitecto e esquecidos, reponho a verdade, encontro neles a lógica que adormecida, encontro nos meus riscos.
Urge por isso, retomar estes exercícios e leituras no nosso programa de ensinamento. Mandar os nossos alunos para as aldeias e procurar o pouco que ali existe. Ou uma simples construção sem referências estéticas, entender a lógica, a medida, a função, a forma como consequência formal…
A verdade é que vejo o ensino (hoje), de uma forma generalizada preocupado com referências estilísticas a autores ou correntes, a materiais em voga ou meras colagens plásticas de arquitecturas de revista.
Chamemos a nós novamente o exercício e objecto principal de fazer arquitectura, compreendendo a essência da construção.
Retomemos a preocupação pelo entendimento da dita arquitectura popular ou não erudita pois nela, temos a verdade e o único método de formar juízos e por isso consequentemente, profissionais da arquitectura.